sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Silver Linings Playbook (2012)

A certa altura diz-se em SILVER LININGS PLAYBOOK que a vida é já complicada o suficiente para se andar por aí a tropeçar em livros com finais tristes. Diz-se isto e lança-se Hemingway janela fora, como quem não quer a coisa, amaldiçoando-se o desfecho do seu Adeus às Armas. A lição também se pode aplicar aos filmes: se a tristeza é necessária - e, atenção, que ninguém aqui afirma o contrário -, também o será a felicidade, o tal contorno prateado. Todos os anos os grandes filmes - ou, pelo menos, aqueles que mais galardões varrem - são os dramas sérios e muito graves; gerou-se tamanho complexo em relação à comédia, à alegria, que já poucos acreditam em quem é capaz de rir. Com o livro voador bate-se o pé à tradição.


David O. Russell - que, quer-me parecer, tem já os seus filmes bem tipificados, evitando sempre fugir muito ao seu modelo aprovado - regressa à disfunção social. Troca a família de The Fighter, obcecada por boxe, por um subúrbio de Filadélfia completamente focado no football. Há o antigo professor de História recém-libertado do hospital psiquiátrico, a miúda desbocada lá do bairro, o pai obsessivo-compulsivo, corretor de apostas supersticioso, e os amigos neuróticos e ligeiramente desequilibrados. Do conjunto das peças estragadas - e a história gira toda em redor das pequenas obsessões de cada personagem -, do messed up, resulta uma fita surpreendentemente agradável - apesar de, e lá está a tipificação, algo previsível - e fresca. É o quebrar dos limites da comédia romântica, a criação tanto dentro como fora das convenções que geralmente contêm o género. Continua tudo muito fofinho e simpático, mas arrepia-se caminho da lamechice em que habitualmente se comete o erro de cair.

Chegado às salas, Silver Linings Playbook justifica a atenção e o burburinho de que tem vindo a ser alvo na corrida aos prémios. Não que seja brilhante - ou que chegue sequer lá perto -, mas assume-se como um tónico eficaz contra a depressão e a apatia. Invulgarmente motivador - e que sorte tive eu em vê-lo durante uma época de exames -, permite que dele se saia com um sorriso nos lábios e satisfeito com a experiência proporcionada. E se Russell, que não sendo um realizador particularmente talentoso - teima em encaixar músicas em tudo o que é cena e meter-se em planos francamente pirosos -, assina ainda assim uma direcção segura muito o deverá ao elenco, excepcional e no seu melhor estado. É bom ter uma estratégia; ainda melhor é conseguir segui-la com êxito.


Título Original: Silver Linings Playbook (EUA, 2012)
Realizador: David O. Russell
Argumento: David O. Russell (baseado no romance de Matthew Quick)
Intérpretes: Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Jacki Weaver, Chris Tucker, Anupam Kher, John Ortiz, Shea Whigham, Julia Stiles
Música: Danny Elfman
Fotografia: Masanobu Takayanagi
Género: Comédia, Drama, Romance
Duração: 122 minutos


Sem comentários :

Enviar um comentário