domingo, 16 de dezembro de 2012

Amour (2012)

O primeiro plano de AMOUR, que irrompe pela tela sem pedir licença a ninguém, não só arromba a porta da casa, como também a própria audiência. E fá-lo com uma certa dose de violência que na altura quase passa despercebida mas que, inevitavelmente, voltará para nos assombrar. Abrem-se portas e janelas - há que deixar sair o cheiro - que nos mostram logo o final da história. O fim está já traçado ainda o filme não começou e não há nada que possamos fazer para o alterar. Resta-nos, pois, sentar e sofrer este Amor - e que fique bem claro que ele existe e está impresso em cada segundo do que vemos - que aqui se inicia e termina em Morte. Ou não fosse esta uma obra de Michael Haneke, realizador votado a objectos de um pragmatismo trágico tal que raramente guardam em si espaço para simbolismos ou subtilezas.


Mas se antes o austríaco optava pelo choque, em Amour vence o espectador através da crueldade calma e gentil com que filma a velhice. A passividade com que se é obrigado - de bom grado - a assistir à lenta degradação daquele casal é absolutamente desarmante. O Amor de mãos dadas com o Sacrifício e o Tempo, em jeito de anti-romance. O díptico Jean-Louis Trintignant/Emmanuelle Riva espelha bem essa condição do filme, entregando-se de corpo e alma à fragilidade senescente das respectivas personagens. Também nos seus olhares, gestos e expressões há Amor, neles que parecem conhecer-se há uma vida.

Numa análise cuidada, o que Haneke cria aqui - e que lhe valeu uma segunda Palma em Cannes - não é um filme bonito. É, contudo, algo muito mais poderoso e comovente, uma demonstração cabal de honestidade que roça a brutalidade e se estende aos planos aparentemente mais inocentes - conceito ao qual, na verdade, Haneke acaba sempre por se furtar no seu trabalho - e ângulos mais inesperados. Quando no fim se regressa àquela casa já não há Amor, só silêncio. Porque o Amor do austríaco mora nas pessoas e não nos objectos que elas tocam. E assim se é, fácil e progressivamente, derrotado pelo melhor filme do ano. E que gosto dá sê-lo por algo tão brilhante como Amour.


Título Original: Amour (Alemanha/Áustria/França, 2012)
Realizador: Michael Haneke
Argumento: Michael Haneke
Intérpretes: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert, Alexandre Tharaud, Rita Blanco
Fotografia: Darius Khondji
Género: Drama
Duração: 127 minutos




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