terça-feira, 4 de setembro de 2012

American History X (1998)

No outro dia, à conversa sobre Cinema com uma rapariga, veio-me à cabeça AMERICAN HISTORY X. Para ser justo, o filme terá surgido primeiro no pensamento dela, mas depressa comecei a esboçar dentro da minha própria mente uma resenha muito básica do que seria a crítica à obra. De facto, não desconhecia a película. A bem dizer, devo tê-la visto qualquer coisa como 10 vezes nos últimos 5 anos, ganhando rapidamente lugar na minha lista de filmes preferidos (todos os cinéfilos têm uma) e mais vezes visitados na minha filmoteca mental. Só que, para além do filme, outra coisa captou rapidamente a minha atenção: a minha interlocutora descreveu-o como antigo. Seria tão antigo quanto isso? Ou mais recente do que ambos julgávamos?

Na altura, a "frio", não me consegui recordar do ano em que American History X havia sido produzido. Com recurso a um computador e, principalmente, à Internet (tem sido, no geral, boa amiga nas minhas divagações cinéfilas), pude confirmar que o filme vem datado de 1998, ano em que recebeu estreia limitada nos EUA, antecipando uma candidatura aos Oscars do ano seguinte. Não sendo novo, também não será tão antigo quanto isso. Mas a confusão é compreensível. A fotografia a preto e branco - das melhores que surgiram naquela década, responsabilidade do também realizador Tony Kaye - complica a datação. E o tema do filme também não ajuda à tarefa. É que cinco anos antes aparecera um outro filme sobre nazis - Schindler's List de Spielberg, arrasa-quarteirões do ano em questão - também a preto e branco, esse de época. Os nazis dos dois filmes encontravam-se separados por algumas décadas, mas as atitudes, tão familiares e reconhecíveis, remetiam para o imaginário colectivo e permitiam associações e comparações entre as duas obras. Quais seriam piores, os alemães influenciados pela sociedade em que viviam e prontos a fechar os olhos às atrocidades ideológicos, ou os neo-nazis norte-americanos, indiferentes face à História? American History X reivindica a coroa para si, numa manobra de coragem, caracterizando os seus neo-nazis como gente ignorante sob o comando de um líder não menos insensível e confuso do que os seus seguidores. Mais violento e menos justificativo, esconde as suásticas e destaca as linhas de pensamento falaciosas que destilam ódio e preconceito. Falhou a nomeação para o Oscar de Melhor Filme, que nesse ano, de forma algo estranha (mas já característica da Academia Norte-Americana) foi para Shakespeare in Love, mas ganhou lugar cativo na cultura popular.

E depois há Edward Norton como Derek Vinyard. Um dos actores mais talentosos da sua geração dá vida a uma das personagens mais memoráveis das última décadas. Marcado por tatuagens que fez noutros tempos, quando acreditava noutras ideias, tenta salvar o irmão - o outro Edward do elenco, este Furlong de apelido - do caminho que há anos tomou. A prisão, o crime, a consciência pesada à conta das mortes e do muito ódio acumulado. Em linhas parelelas que se vão cruzando aqui e ali a sua história vai sendo contada. Compreendê-lo nem sempre é fácil, mas é possível alguma identificação. O Oscar de Melhor Actor também lhe fugiu, indo parar a Roberto Benigni por La vita è bella, mas é justo escrever que Norton construiu com base no seu talento um dos retratos mais exactos e coerentes de um homem em conflicto consigo próprio de que há memória no cinema recente. Entre os dois Edwards o filme vai ficando sem espaço para as outras personagens, que vão surgindo subtilmente e levantando importantes questões e dilemas morais. O professor negro, a namorada provocadora, a irmã liberal, todos eles trabalham em prol da resolução do problema central da película: em que parte da vida, e onde, se cruzou Derek com a ideologia nazi? Nenhuma personagem se esforça mais para responder a esta questão do que o próprio Norton, cuja presença, quase sufocante, na sala de edição levou o realizador Tony Kaye, segundo se conta, a quase rejeitar American History X como obra da sua autoria.

O filme, esse, indiferente, a questões de outra ordem que não a sua, mantém-se popular em certos círculos, assumindo-se de difícil digestão, muito por culpa da violência implícita mas crua. Tal como a imagética, por vezes o que não se vê é mais perturbador do que o que surge à vista desarmada. Capaz de provocar profundas introspecções, acaba com a maior das questões que coloca. E se o Mal vier da nossa própria casa?


Título Original: American History X (EUA, 1998)
Realizador: Tony Kaye
Argumento: David McKenna
Intérpretes: Edward Norton, Edward Furlong, Beverly D'Angelo, Jennifer Lien, Stacy Keach, Avery Brooks, Alex Sol, Guy Torry, William Russ,
Música: Anne Dudley
Fotografia: Tony Kaye
Género: Crime, Drama
Duração: 119 minutos


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