terça-feira, 19 de abril de 2011

Casablanca (1942)

Captain Louis Renault: «In Casablanca I am master of my fate!»
(apenas para não escolher uma das frases memoráveis que já todos conhecem)


Escrever sobre Casablanca é escrever sobre cinema a sério - não há volta a dar, e toda esta crítica podia ser resumida nesta simples, e, no entanto, tão verdadeira frase. Casablanca é o grande clássico do cinema norte-americano, o filme que melhor sintetiza o espírito de quem habita no burgo do Tio Sam.

Numa época dourada para o cinema norte-americano, em que os maiores estúdios de cinema emprestavam as suas estrelas entre si, e em que os filmes lançados eram em muito menor quantidade do que hoje em dia, os filmes tinham o seu grande atractivo no argumento e na história que escolhiam apresentar aos seus espectadores, que, sem televisão, viam no cinema e na rádio as suas maiores fontes de entretenimento.

Em 1942, em plena IIª Guerra Mundial, a Warner Bros., gigante do entretenimento americano, conhecida na época pelas suas posições marcadamente anti-germânicas, decidiu apostar, e bem, em Casablanca, um filme com um argumento adaptado de uma peça de teatro (um musical) que nunca chegou a estrear. Rick Blaine (Humphrey Bogart) é um americano expatriado a residir em Casablanca, ponto obrigatório de passagem para quem queria voar para Lisboa e, consequentemente, para o Novo Mundo; dono do café da moda, onde se joga a dinheiro, se conquistam mulheres, e, ainda mais importante, se compram e vendem vistos (as Letters of Transit), indispensáveis para quem quisesse viajar para a América e escapar à guerra que assolava a Europa, Rick, que se mantém à margem da política, mesmo quando ela é discutida no seu café e pelos seus empregados, vê-se obrigado a enfrentar um passado que julgava já ter esquecido quando entram no seu café Victor Laszlo (Paul Henreid), figura do movimento de resistência clandestino à opressão alemã, e Ilsa Lund (Ingrid Bergman), a mulher que abandonou Rick em Paris.

Num elenco recheado de actores de enorme qualidade, entre os quais se contam Claude Rains (discutivelmente, e para mim, o melhor actor secundário alguma vez projectado num grande ecrã), Paul Henreid, Peter Lorre, Dooley Wilson (o Sam) e Ingrid Bergman, Casablanca vive sobretudo, mas não só, da interpretação inesquecível de Humphrey Bogart como Rick Blaine, o derradeiro herói dos anti-heróis. Bogart, que não se assumia como o habitual galã do cinema americano, correspondendo mais ao estereótipo de bêbedo briguento, deu vida como nenhum outro actor o conseguiria fazer a Rick - e Rick Blaine, o solitário que tinha como destino ajudar os oprimidos, deu vida como nenhuma outra personagem o conseguiu fazer à carreira de Bogart. O Oscar de Melhor Actor escapou-lhe, mas a fama, essa, nunca ninguém lha conseguiria tirar.

Casablanca é o filme que mais se aproxima da perfeição, pelo seu argumento, pelo seu elenco, e, sobretudo, pelo contexto em que foi produzido e originalmente lançado. O seu humor quase negro, a sua miríade de frases repetidas até à quase exaustão em todas as situações possíveis e imagináveis, a sua As Time Goes By, tocada por Sam no seu piano, o seu clímax na cena final, tudo contribui para a mitificação deste belíssimo filme. O momento em que vemos Casablanca é o momento em que começamos a ver, verdadeiramente, cinema - depois de o vermos, nada mais é igual ao que era antes: a água sabe-nos ao mesmo, o Sol brilha como de costume, mas nós, mudados pelo que vimos, queremos, sempre, e para sempre, retornar àquela magnífica cidade aportada na costa africana, símbolo de sonhos concretizados e de liberdade.

Casablanca não é um filme normal. É algo de incomensuravelmente belo, que merece ser revisto sempre que nos apeteça. E, quer queiramos, quer não, a frase que melhor o descreve é aquela que nunca chegou a ser dita: Play it again, Sam.




Ilsa: Play it once, Sam. For old times' sake.
Sam: [lying] I don't know what you mean, Miss Ilsa.
Ilsa: Play it, Sam. Play "As Time Goes By".

Título Original: Casablanca
Realização: Michael Curtiz
Argumento: Julius J. Epstein, Philip G. Epstein, Howard Koch & Murray Burnett e Joan Alison (peça Everybody Comes to Rick's)
Intérpretes: Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Paul Henreid, Claude Rains, Dooley Wilson, Peter Lorre, Conrad Veidt
Música: Max Steiner
Fotografia: Arthur Edeson
Género: Drama, Guerra, Romance
Duração: 102 minutos

IMDb: 8.8/10
Rotten Tomatoes: 97% (9/10 average rating)



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